sábado, 17 de janeiro de 2009

Respondendo e-mails

RESPONDENDO E-MAILS

Tenho recebido uma série de e-mails relacionados a artigos publicados no Blog do ArtCulturalBrasil que, aliás, vem obtendo extraordinário sucesso no mundo cultural, pelo que parabenizo seus mentores.
Resolvi responder aos leitores através do blog, uma vez que a ele diz respeito e são, na maioria das vezes, questões correlacionadas. Para facilitar, enumerarei as perguntas, vindo em seguida as respostas.

1. O que é saber pensar?

Saber pensar é uma potencialidade humana e possui relação com a capacidade de aprendizagem. “É a teoria mais prática que existe, ou a prática mais teórica que existe” (DEMO, 2004). Saber pensar é não ter pressa para enquadrar a realidade, memorizar a fórmula, construir a resenha ou o quadro conceitual. É um jogo ousado que exige deslocamento de quem pensa: ir ao encontro do outro e trazer o outro (pessoa, fenômeno...) para si. Jogo que pode ser percebido em sua dimensão de externar e ressignificar as angústias e outros sentimentos, como também pode ser percebido como o jogo por disputa de significados, opiniões e pontos de vistas diferentes. A distinção feita entre pensamento criador e inovador possui o desejo de demarcar o lugar de onde está se refletindo a questão: a sociedade, tipificada por muitos como sociedade do conhecimento, de maneira hegemônica, propõe uma parceria de negócio entre o conhecimento e o capital, parceria que tem se demonstrado uma admirável inovação em determinados campos e uma escandalosa exclusão para parte significativa da humanidade.
A distinção apontada deseja sinalizar que não se está argumentando a partir da lógica predominante do conhecimento moderno que deseja, a qualquer custo, o domínio da natureza, fundado no seu desejo de racionalização extrema de tudo e todos. O pensamento criador parece ser aquele que mergulha na vida (seus mistérios, contradições e inconclusões) como se mergulha no mar e não como se atravessa uma parede de concreto com um potente trator. Muito menos como aquele que atravessa uma ponte bem construída, limpa de horizontes e sem obstáculos. Pelo contrário, o caminho do pensar parece-me errático e tortuoso, condicionado exatamente pela falta de certezas, pela ausência de “um lugar certo” a se chegar.
Santos nos mostra, no trecho abaixo, a relação entre a ação cotidiana e o espaço físico:
A relação do sujeito com o prático-inerte inclui a relação com o espaço. O prático-inerte é uma expressão introduzida por Sartre para significar as cristalizações da experiência passada, do indivíduo e da sociedade, corporificadas em formas sociais e, também, em configurações espaciais e paisagens. Indo além do ensinamento de Sartre, podemos dizer que o espaço, pelas suas formas geográficas materiais é a expressão mais acabada do prático-inerte. (SANTOS, 1997, p. 254).
Freire, pensando a partir da questão da palavra e ocupado de maneira marcante com a questão do diálogo, nos ajuda entender melhor a dimensão do convite que está sendo sinalizado como desafio para o espaço-atividade do ambiente. As palavras podem ser tratadas de forma diferenciada no espaço-atividade, como portadoras de significados ou como palavras vazias. A palavra pode ser dita como um convite, uma porta de entrada para o mundo que mora dentro dela, ou como um enunciado, bem formulado, mas que deixa, quando muito, seus significados, histórias, sentidos para quem a formulou. Na perspectiva apontada e defendida por Freire, a palavra carregada de significado é práxis, “daí que dizer a palavra verdadeira seja transformar o mundo”.
A existência, porque humana, não pode ser muda, silenciosa, nem tampouco pode nutrir-se de falsas palavras, mas de palavras verdadeiras, com que os homens transformam o mundo. Existir, humanamente, é pronunciar o mundo, é modificá-lo. O mundo pronunciado, por sua vez, se volta problematizado aos sujeitos pronuciantes, a exigir deles novo pronunciar. (FREIRE, 1978:92).
O pensar criador gera movimento, aquilo que se apresenta como verdade passa pelo questionamento, o naturalizado vira objeto de problematização e conhecer se apresenta como uma arte exigente, possível para todos e todas, que nos instiga sempre. O pensar criador acorda o conhecimento, planta uma semente de interrogação onde antes morava a arrogância das certezas e que por vezes nos imobiliza ou adormece.
[...] mas antes uma prova da sonolência do saber, prova da avareza do homem erudito que vive ruminando o mesmo conhecimento adquirido, a mesma cultura, e que se torna, como todo avarento, vítima do ouro acariciado [...] (BACHELARD, 1996).

2. O que é saber ler e entender o que se lê?

Eu digo que ler não é só caminhar sobre as palavras, e também não é voar sobre as palavras. Ler é reescrever o que estamos lendo. É descobrir a conexão entre o texto e o contexto do texto, e também como vincular o texto/contexto com o meu contexto, o contexto do leitor [...] Portanto, sou favorável a que se exija seriedade intelectual para conhecer o texto e o contexto. Mas, para mim, o que é importante, o que indispensável, é ser crítico. A crítica cria a disciplina intelectual necessária fazendo perguntas ao que se lê, ao que está escrito, ao livro, ao texto. Não devemos nos submeter ao texto, ser submissos diante do texto. A questão é brigar com o texto, apesar de amá-lo, não é? Entrar em conflito com o texto. Em última análise, é uma operação que exige muito. Assim, a questão não é só impor aos alunos numerosos capítulos de livros, mas exigir que os alunos enfrentem o texto seriamente. (FREIRE, SHOR. 1986: 22).
Tal dinâmica pode ser reforçada pela a ideia do pós-ocupado (quem sabe um outro mito da pedagogia). Kosik (1976), a partir da ideia de Heidegger sobre a questão do preocupado, nos alerta que, ao extremo, não somos portadores de preocupações, mas elas “nos possuem”. A inversão proposta pelo autor é mais do que um jogo de palavras. A preocupação, segundo ele, é o mundo (seus significados, exigências, etc) dentro do sujeito. Dessa forma, o sujeito se ocupa sem pensar no que está ocupado, já que, ao mesmo tempo em que se ocupa com algo se encontra preocupado com outra coisa.

3. Procede a afirmação de que uma pessoa idosa tem menor poder de compreensão na leitura e por isso distorce fatos e torna-se agressiva?

Não sou especialista em geriatria, mas creio que depende do estado físico e mental do idoso, da sua intelectualidade e universo cultural. Por expressar conceitos básicos de uma área do conhecimento, pode ser difícil, ou mesmo impossível, escrever sobre determinado assunto sem o domínio da terminologia. Por exemplo: seria complicado falar de Genética sem usar a palavra "gene" ou outra que a substitua. Do mesmo modo, o leitor precisa dominar a terminologia para entender o texto.
A terminologia específica é a característica mais marcante da linguagem conceitual, principalmente na linguagem das Ciências Exatas e Biológicas. As ciências buscam uma linguagem universal que expresse uma compreensão totalmente objetiva da realidade. Para isso, são usados termos precisos, que procuram garantir a exatidão do conceito. Embora esse seja um procedimento válido, ele limita o número de leitores que precisam dominar a terminologia para poder entender o que se escreve ou lê. Dessa forma a distorção da realidade e o deslocamento da agressividade para outros podem ser minimizados.

4. O que é ortografia e acordo ortográfico? É o mesmo que literatura?

“Orto” é um prefixo de origem grega que significa direito, reto, exato (correto).
“Grafia” também de origem grega, significa a ação de escrever.
Assim, a ortografia estuda a ação de escrever de forma correta, através do emprego adequado das letras e sinais gráficos.
Acordo Ortográfico: está na mídia. Sugiro que leia o DECRETO Nº 6.584, de 29 de setembro de 2008 - DOU 30.9.2008.
Literatura: assim como a música, a pintura e a dança, a Literatura é considerada uma arte. Através dela temos contato com um conjunto de experiências vividas pelo homem sem que seja preciso vivê-las.
A Literatura é um instrumento de comunicação, pois transmite os conhecimentos e a cultura de uma comunidade, de um povo. O texto literário nos permite identificar as marcas do momento histórico-social em que foi escrito.
As obras literárias nos ajudam a compreender as mudanças do comportamento do homem ao longo dos séculos, e a partir dos exemplos, refletir sobre nós mesmos.
Um texto literário apresenta:
-Ficcionalidade: os textos não fazem, necessariamente, parte da realidade. - Função estética: o artista procura representar a realidade a partir da sua visão. - Plurissignificação: nos textos literários as palavras assumem diferentes significados. - Subjetividade: expressão pessoal de experiências, emoções e sentimentos.

5. O que é Ética?

Ética é algo que todos precisam ter. Alguns dizem que tEm.
Poucos levam a sério. Ninguém cumpre à risca...
(Prof. Vanderlei de Barros Rosas )

6. Foi você quem escreveu a história da Literatura Brasileira?
( Risos)! Claro que não! Escrevo alguns artigos baseados na sua história.

7. O que é narcisismo?

Diz o mito, que Narciso era um homem tão belo que ao olhar seu reflexo na água apaixonou-se de imediato e ali ficou se admirando e definhando até morrer.Vendo por este lado, penso eu que narcisista é uma pessoa que ama mais a si do que qualquer outra coisa no mundo.
Muitas vezes, ouvimos falar de narcisismo de uma maneira pejorativa. Mas, o narcisismo é uma condição natural. Um certo narcisismo é fundamental para nossa vida. É uma espécie de amor próprio, um amor inato por nós próprios e que parece existir desde os primeiros dias de vida. Gostar de si mesmo, cuidar-se, arrumar-se e ter uma boa auto-estima é um processo fundamental para irmos em frente com algum sucesso. É um sinônimo da ligação saudável com a vida.
Mas, como tudo que é demais vira problema, o narcisismo, uma condição normal e saudável, pode se transformar numa doença séria que quase sempre leva o indivíduo à auto destruição.
O narcisista doentio tem obsessão por fantasias de sucesso ilimitado: Tais pessoas têm obsessão por fantasias de sucesso ilimitado, fama, poder ou onipotência. Muitos querem parecer brilhantes (O narcisista intelectual), outros buscam obstinadamente a beleza corporal ou então, a performance sexual brilhante (O narcisista corporal), ou o narcisista moral que busca o amor ou a paixão eterna (ideal). A convivência com eles pode ser um transtorno indescritível. E há os exploradores - Nas relações interpessoais, são exploradores, ou seja, usam os demais para alcançarem seus objetivos. Por não conseguirem produzir idéias e executar coisas, sentem-se impotentes e dessa forma, aliam-se às demais pessoas que admiram e as exploram. No caso de Jason, dessa edição, há um exemplo claro desse tipo de exploração. mas o narcísico é alguém sempre disposto a tirar "vantagem"dos outros.

8. O que é logosofia?

A Logosofia é a ciência do presente e do futuro, porque encerra uma nova e insuperável forma de conceber a vida, de pensar e sentir, tão necessária na época atual para elevar os espíritos acima da torpe materialidade reinante.
Da Sabedoria Logosófica

BIBLIOGRAFIA

1. BACHELARD, Gaston. A Formação do espírito científico. Rio de Janeiro: Contraponto, 1996.
2. BAKHTIN, Mikhail (V.N. Volochinov). Marxismo e filosofia da linguagem. São Paulo : Hucitec, 1997.
...


3. BOFF, Leonardo. Saber cuidar – ética do humano-compaixão pela terra. Petrópolis. RJ: Vozes, 1999.
4. BOURDIEU, Pierre. O poder simbólico. Rio de Janeiro: Editora Bertrand Brasil, 1989.
5. BUENO, Francisco da Silveira. Grande dicionário etimológico – prosódico da língua portuguesa. São Paulo : Saraiva, 1968.
6. CARVALHO, Maria do Carmo Brant de; NETTO, José Paulo. Cotidiano: conhecimento e crítica. 5ª Ed. São Paulo: Cortez, 2000.
7. DEMO, Pedro. Conhecimento moderno – Sobre ética e intervenção do conhecimento. 3ª Ed. Petrópolis, Vozes, 1999.
___________. Saber pensar. Acesso em 27/04/05.
___________. Saber pensar. 4ª Ed. São Paulo: Cortez: Instituto Paulo Freire, 2005.
8. DUBOIS, Jean. Dicionário de lingüística. São Paulo : Cultrix, 1973.
9. ELIAS, Norbert. Sobre o tempo. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed. 1998.
10. ECO, Umberto. Conceito de texto. São Paulo : T.A. Queiroz, 1984.
11. FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo dicionário da língua portuguesa. 2ª ed. São Paulo : Nova Fronteira,1986.
12. FIORIN, José Luiz, SAVIOLLI, Francisco Platão. Lições de texto: leitura e redação. São Paulo : Ática, 1997.
13. FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. 5ª Ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1978.
____________. SHOR, Ira. Medo e ousadia – o cotidiano do professor. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1986.
14. FREIRE, Madalena (Org.). Rotina: construção do tempo na relação pedagógica. São Paulo: Espaço Pedagógico, 1998.
_____________. Avaliação e Planejamento – a prática educativa em questão – Instrumentos Metodológicos II. São Paulo: Espaço Pedagógico, 1997.
15. GRANATIC, Branca. Técnicas básicas de redação. São Paulo : Scipione, 1995.
16. GUIMARÃES, Elisa. A articulação do texto. São Paulo : Ática, 1992. ALVES, Rubem. Um céu numa flor silvestre – a beleza em todas as coisas. Campinas, SP: Verus Editora, 2005.
17. HEIDEGGER, Martin. Ser e Tempo. 2ª Ed. Petrópolis: Vozes, 1990.
18. KOSIK, karel. Dialética do Concreto. 4ª Ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1976.
19. LAROSSA, Jorge. Nota sobre a experiência e o saber da experiência. Revista Brasileira de Educação (ANPED). nº 19, ano 2002. Campinas, SP: Autores Associados. Páginas 20-28.
20. LOUREIRO, Cláudia. Classe, controle, encontro: o espaço escolar. Tese de Doutorado. São Paulo: Universidade de São Paulo, 1999.
21. MARIZ, Ricardo. O catador de pensamentos. Revista Linha Direta. Ano 6, n° 59, fev. 2003.
22. MARX, Karl e ENGELS, Friedrich. A ideologia alemã. São Paulo: Centauro Editora, 2002.
23. RANCIÈRE, Jacques. O mestre ignorante – cinco lições -Editora Bertrand Brasil, 1989.
24. RANCIÈRE, Jacques. O mestre ignorante – cinco lições sobre a emancipação intelectual. Belo Horizonte: Autêntica, 2002.
25. SANTOS, Milton. A natureza do espaço – técnica e tempo, razão e emoção. 2ª Ed. São Paulo: Editora Hucitec. 1997.
26. SERAFINI, Maria Teresa. Como escrever textos. São Paulo : Globo, 1992.
27. VÁZQUEZ, Adolfo Sánchez. Filosofia da Praxis. 3ª Ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra. 1986.
28. WAGNER, Helmut R. (Org.). Fenomenologia e relações sociais – textos escolhidos de Alfred Schutz. Rio de Janeiro: Zahar Editores. 1979


...

Nenhum comentário: