sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

O Poeta de Almas Raras


"...Uma poesia depurada, silenciosa construída com uma destreza artesanal no lidar com a língua habitada por certo sentido clássico. Coerente com sua postura estética, sua forma é perfeita, demonstrando habilidade de versificação e pureza da língua. Sua poesia não é superficial como visão do homem, pois não se detém na camada superficial das cores, dos sons, mas mergulha nas angústias e prazeres do ser humano.
Jacob possui uma habilidade impressionante para lidar com as palavras. Ou melhor, uma volúpia pelas palavras e suas múltiplas possibilidades sonoras, visuais e semânticas… Dificilmente se desvia do verso decassílabo para o verso alexandrino ou para o hendecassílabo. Neste livro ele trabalha exaustivamente com o decassílabo, criando sonetos, quadras e sextilhas de fôlego, dentro de apuradas e inéditas temáticas, trazendo para a tradução dos seus versos temas subjetivos, místicos e filosóficos para compreensão imediata do seu leitor.
O verso alexandrino ou o hendecassílabo não exclui o poeta de sensibilidade fina que se derrama em notas líricas de uma fluência sempre renovada... Quanto ao conteúdo, a obra agrada e emociona pela sensibilidade do poeta ao tratar dos mais variados temas do cotidiano, pela sua sinceridade e, sobretudo, pela dedicação à família, especialmente à infância. Chama atenção a religiosidade do poeta pela sua reiterada profissão de Fé em Deus. É bom que nesse mundo conturbado existam as Almas Raras, cuja representatividade maior está no poeta José Antonio Jacob! Almas Raras de José Antonio Jacob é um livro de suma importância para o meio literário brasileiro, que este apressado e impreciso comentário nem de longe sonha registrar. Vale a pena a sua leitura!..."
Maria Granzoto da Silva
Academia de Letras Artes e Ciências Centro - Norte do Paraná e Professora Universitária
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Um pouco de José Antonio Jacob
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Delírios de Maio
José Antonio Jacob)
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Estou triste outra vez é o mês de maio,
Por que não abro a minha porta e saio?
Fico da greta espiando na calçada,
Vejo lá fora a tarde sorridente,
As pessoas alegres e eu descrente,
Não sei por que não creio mais em nada!
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E isto num mês tão lindo, um mês de flores,
Época das promessas, dos amores,
Dos feriados que a Igreja comemora.
Dos anjinhos com asas de algodão,
Pequenos pajens que em cortejo vão,
Piedosos, a coroar Nossa Senhora.
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Soa o sino seis vezes, dá-me pena!
Vejo uma moça saindo da novena
Enrolando um tercinho no seu dedo,
Ah! Como ela é bonita e tão viçosa!
E vai, qual uma delicada rosa,
Desfiando os seus espinhos em segredo.
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E mais atrás vem um grupo de beatas,
Felizes criaturinhas de alpargatas,
Encurvadinhas, rindo, coitadinhas...
Elas voltam das rezas, aliviadas,
As suas penas já foram perdoadas...
Mas que pecado atinge essas santinhas?
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E o suave som da doce ave-maria
Espanta um caburé, que voa e pia,
Depois vem repousar no meu telhado.
Xô, daí, mau agouro! Espanto o Azar
Que num sobrado em frente vai pousar,
E eu fico no meu canto sossegado.
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No adro da igreja um homem queima fogos,
Abre a feira de doces e de jogos,
Bem em cima da sombra do Cruzeiro.
E acima disso Jesus Cristo entende,
Que, ainda hoje, o Judas Iscariotes vende
O Signo do Amor por qualquer dinheiro.
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Dois cegos de mãos dadas nas beiradas,
Ficam girando as córneas azuladas,
E um coxo sai pulando feito mola,
Tentando andar ao lado do prefeito,
Para que todos vejam seu defeito:
No chão uma mulher pede-lhe esmola...
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De um poste o alto falante da quermesse
Anuncia uma música e uma prece,
Hora do Ângelus cai a tarde morta...
E lá no céu os anjos fazem coro,
Dentro de casa escuto a voz de choro
De uma criança faminta em minha porta.
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Eu sofro da alma e tenho essa moléstia,
Que encurva o meu espírito em modéstia,
E que me parte o coração de pena...
De esse acanhado olhar que não me estranha,
Que me chama, me pede e me acompanha,
E me implora com sua voz pequena.
...
Chego à janela e fico pensativo
(Decerto que pareço um morto e vivo)
Com meu dedo no queixo a resmungar...
E quando o riso alegre de uma criança
Repuxa no meu rosto uma esperança,
Apago a luz para ninguém notar.
...
Fico dali olhando a noite clara,
Não gosto de mostrar a minha cara
E aconcho as mãos no rosto feito um jeca.
Uma jovem senhora dobra a esquina,
Ela vem embalando uma menina,
E a menina embalando uma boneca...
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Um tipo estica um pano na calçada,
E abrindo um jogo com carta marcada,
Puxa um curioso para ser parceiro...
A aposta corre livre à luz da lua,
Passa um soldado, que atravessa a rua,
Para não molestar o trapaceiro.
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As bombas de artifício estouram o ar,
Derramando mais cores neste luar,
E a meninada corre para vê-las...
Inclino-me à janela, mais um pouco,
E encanto-me de ver um ébrio louco
Declamando Camões para as estrelas.
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Duas moças que passam batem palmas,
E o bêbedo, com três manobras calmas,
Dobra os joelhos na rua iluminada...
E elas seguem sorrindo divertidas,
E vão levando suas jovens vidas
Para o destino incerto da calçada.
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Passeio na Cidade
(José Antonio Jacob)
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Desço à cidade a tarde é clara e linda,
E para anoitecer é tão cedo ainda...
Faz tempo que não chove e que não venta.
Eu gosto da indolência e amo a preguiça,
E piso leve, em passo de cortiça,
Na minha sombra que se estica lenta.
...
Espicho o olhar... a rua é tão comprida!
E lá no fim da rua existe vida...
No meu caminho nunca usei atalho,
Eu ando devagar feito o verão,
Que passa como as horas de trabalho,
No relógio de ponto do patrão.
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Reparo nos olhares que desbotam
E as pessoas que passam nem me notam...
Sinto-me triste como um velho lobo...
Tento saudar alguém e nem sei aonde,
Nenhum aceno amigo me responde,
E eu sorrio sozinho feito um bobo.
...
Sigo adiante querendo me alegrar
E olho vitrinas, sem poder comprar,
E o meu olhar comprido se despoja.
Todo dia que eu passo por aqui,
De dentro da vidraça de uma loja,
Um manequim de massa me sorri.
...
Eu devolvo o sorriso mais contente:
- Esse boneco tem alma de gente
E se veste com roupas pitorescas!
E aqui fora há pessoas amontoadas,
Por cima dos balaios nas calçadas,
Onde os fruteiros vendem frutas frescas.
...
Enquanto, adiante, um mágico de fraque,
Tremendo a boca, o queixo e o cavanhaque,
Puxa um coelho de dentro do embornal,
Um velho charlatão calvo apregoa
Que a sua droga é uma pomada boa
Para curar calvície ou um outro mal...
...
Eu atravesso a rua e o tempo passa,
E nesse tempo eu chego numa praça
Onde os pintores pintam suas telas.
Que coisa linda!... e num banco me assento.
Quem me dera eu tivesse esse talento
De expressar-me pintando coisas belas!
...
A tarde cobre o céu como um lençol,
Detrás do morro já suspira o sol
Seu último bocejo vespertino.
Eu sempre fico triste nessa hora,
De ver essas pessoas indo embora,
Seguindo cada qual o seu destino...
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“Sinônimo de Poeta, Logomarca da Poesia”
José Antonio Jacob, sinônimo de poeta, logomarca da poesia. Tive o prazer de conhecê-lo e me tornar seu amigo, horas infindáveis falando de hai kais, sonetos, versos brancos, saudades, esperanças, música e noites de lua. Todos os temas que rimam com a beleza da vida.
Ele é ainda a “alma calma...é aquele menininho sossegado / que brinca de guerreiro no jardim”, como finaliza um dos seus sonetos, “Carretéis”, para mim um dos mais belos e sensíveis da língua portuguesa, digno de figurar em qualquer antologia.
Nesta pequena-grande obra-prima ele fala também de premeditações das brigas, recrutando soldados para vencer armadas inimigas em longa fileira de formigas. Mas o que ele premeditou mesmo foi colocar-se a serviço das Musas. Não duvido que, no momento em que o Criador definiu a vinda dos poetas para a terra, de alguma forma ele burlou o esquema e se colocou nos primeiros lugares da fila.
José Antonio Jacob, sinônimo de poeta, logomarca da poesia, é mesmo a alma calma e sensível, de apurado senso estético e social despejado nos versos de refinado romantismo, premeditados para atingir os espíritos evoluídos, neste mundo tão mecanizado a carecer de afeto e humanismo.
Falar mais é pleonasmo. Ele mantém presente o princípio. É o verbo literalmente fluindo em poesia.
Belo Horizonte, 2001.

Geraldo Elísio Machado Lopes
Jornalista, poeta e ex-secretário adjunto de Cultura do Estado de Minas Gerais
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Carretéis
(José Antonio Jacob)
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Nem bem o sol abria os seus bordados
De luminosas cores, entre as bigas
De carretéis e fósforos usados,
Eu já premeditava as minhas brigas.
...
Para vencer armadas inimigas,
Eu perfilava de olhos encantados,
Um exército imenso de soldados,
Numa fileira longa de formigas.
...
O que passou da vida eu não senti,
O tempo inteiro eu fui ficando ali
Nos digitais alegres do passado.
...
Esta alma calma, que ainda vive em mim,
É aquele menininho sossegado
Que brinca de guerreiro no jardim.
...
(Do livro Almas Raras ed.artculturalbrasil - 2007)


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3 comentários:

Maria Granzoto disse...

E que se danem 0s opositores! Isto é Literatura Brasileira! Maria Granzoto

Tere Penhabe disse...

Assino embaixo da Profª Maria Granzoto com um pequeno acrescento: "Literatura BRASILEIRA da melhor qualidade." Ou eu rasgo meu diploma...

Ana Maria Machado Da Costa disse...

lindooo "O poeta de Alma Rara"
meus parabéns amei os seus poemas vou divulgar ok?
bjss ♥